02/11/12

Fragmentos de 2011/07/21


Susaki Paradise: Red Light District (1956) de Yuzo Kawashima: ****
Kawashima demonstra uma enorme e invulgar destreza em descrever o amor como um processo não-livre e severo de repetições (não é por acaso que o seu discípulo é Imamura!) - a despeito da quantidade de mudanças e das possibilidades de fuga que poderiam ocorrer. A narrativa como que nos enche de várias possíveis saídas para a relação monótona e problemática dos dois amantes, para no final nos reconciliarmos suavemente (mas tragicamente, à la Naruse) num último plano que é a exacta repetição do primeiro. Insistentemente, por muito que se saia de "casa", está-se sempre no seu quintal...



Story of Pure Love (1957) de Tadashi Imai: ***
Com este filme típico do pós-guerra, Imai afinca a sua postura de realizador esquerdista e vira a câmara para as suas inevitáveis vítimas: uma juventude delinquente que aprenderá o que é o amor. Para Imai, parece-nos que só um sentimento tão forte como esse poderia libertar os personagens das amarras histórico-sociais a que estão presos. Mas, a sua mensagem é pessimista e as sombras da guerra pairam sempre (sob o símbolo de doença...).



An Outlaw (1964) de Teruo Ishii: ***
Ishii, depois da sua saga Line, executa aqui o mesmo estilo de filme que o tinha consagrado na Shintoho: um cruzamento entre o filme de gangsters e uma sensibilidade mais cinéma-vérite, explorando as ruelas de Hong-Kong e Macau (muito bom o pormenor da polícia portuguesa!). Apesar da dupla explosiva (Takakura e Tanba) e do seu final imprevisívelmente negativista, teríamos de esperar ainda por uma maturidade artística dos seus filmes posteriores.



A Vengeful Spirit (1968) de Yoshihiro Ishikawa: ****
Arrojado estilisticamente, esta é talvez a mais satisfatória das direcções artísticas que um filme de terror já conheceu.



The Red Silk Gambler (1972) de Teruo Ishii: ****
Agora que esta pérola Ishiana ficou disponível com uma qualidade de imagem digna, ficou comprovada a imensa competência estética destes ninkyo's tardios e bem polidos, sem nenhum medo de enveredar por aproximações mais violentas e sexuais (porque a honra também têm destas coisas...). E depois que pedir mais? Hiroko Fuji, Reiko Ike, Bunta Sugawara!



Chong (2001) de Lee Sang-Il: ***
Esta média-metragem foi o filme de final de curso do realizador japonês (mas de descendência coreana) Lee Sang-Il e, justamente, nesta sua primeira criação (que augurava já boas premonições) Lee filmava as vidas de jovens coreanos integrados, por um lado, no sistema mais tradicional e educativo coreano, e por outro, nas ruas e na sociedade japonesa. O problema destes protagonistas é que, parafraseando um diálogo do filme, não são coreanos na Coreia, nem japoneses no Japão. No entanto, a maneira como se trata um problema sério como este (que em cinema vai de um Nagisa Oshima a um Yoichi Sai) é muitas vezes, parodiando - algo que resulta bastante bem, no caso.



Chicken Heart (2002) de Hiroshi Shimizu: **
Depois do curioso Suicide Bus (1998), o antigo assistente de realização de Kitano embarcava nesta comédia deadpan com um trio de marginais, as suas aventuras e desventuras. À parte dos momentos mais "kitanescos" (planos fixos e o olhar estarrecido para a câmara), toda a realização é pouco inventiva e só alguns planos compensam alguma monotonia estética.



The Code (2008) de Kaizo Hayashi: *
Uma dupla que poderia fazer esperar uma pequena surpresa cinematográfica (Kaizo Hayashi - o realizador desconstrutivista - e Joe Shishido - o marco dos filmes de gangster hard-boiled), revelou ser uma experiência bastante insuficiente a todos os níveis. O que parecia ser uma desconstrução engraçada e cheia de estilo ao género não passou de uma introdução para um filme com fórmula adulterada à Steven Spielberg dos anos 80. A excessiva duração (2 horas) também não ajudou...



A Crowd of Three (2010) de Tatsushi Omori: **
Após o negro e pessimista The Whispering of the Gods, aguardava-se novos desenvolvimentos nas malignas concepções cinematográficas de Tatsushi Ômori, mas se este A Crowd of Three eventualmente resgata a mesma secura disposicional e a mesma imoralidade nos personagens, não se consegue, por outro lado, assegurar uma dignidade do argumento. Se o vazio dos personagens e as suas selvagens acções ganhavam um lado transgressivo em Whispering porque o contraste era com toda a instituição clerical, aqui a história de uma disfuncional relação a três (a dois, na verdade, porque a personagem feminina é constantemente mal-tratada) acaba por tornar-se repetitiva o bastante para anular o espanto prematuro a que tinhamos assistido na primeira hora de filme.

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