Notes of an Itinerant Performer (1941) de Hiroshi Shimizu: ***
Um Shimizu que envolve o lado problemático e forasteiro da vida teatral, opondo-se à estabilidade da estrutura familiar e do casamento. Fez-me lembrar The Story of the Last Chrysanthemus de Mizoguchi pelo tratamento realista com que encara o mundo do espectáculo, mas distanciando-se deste por defender a organização familiar como a solução.
Children of the Beehive (1948) de Hiroshi Shimizu: ****
Alguém disse que Shimizu era o cineasta que restituía uma dignidade à criança e este Children of the Beehive comprova quase neorealisticamente essa designação. Um filme singelo, verdadeiro e perdido no seu tempo.
Mr. Ohara Shosuke (1949) de Hiroshi Shimizu: **
Filme com os seus momentos, este Shimizu deve demais ao personagem caricato, tanto que, saindo desse âmbito pouco mais resta a assinalar.
Oh! Women: A Dirty Song (1981) de Tatsumi Kumashiro: ****
Este foi um dos primeiros filmes a instaurar Yuya Uchida como o anti-herói por excelência, espécie de arquétipo para toda uma geração de 80 perdida, numa saga de filmes (não-relacionados directamente) negros e violentos, alguns deles realizados por nomes como Koji Wakamatsu, Yoichi Sai ou Yojiro Takita. Embora este filme de Kumashiro sofra de alguns problemas (porque se é um pink, as óbvias cedências ao género são feitas), por vezes, o facto dessa mesma sexualidade bruta (e uma certa misoginia) estar presente de dez em dez minutos, sublinha ainda mais o carácter anti-social, doentio e monstruoso de tal personagem dormente e lunático. De realçar a banda-sonora, principalmente a que acompanha a cena final, talvez a melhor cena, e que justifica a nota que se deu.
Turtle Vision (1991) de Hisayasu Sato: ****
Neste oblíquo exercício alucinante, Sato vai deixando pistas teoréticas quanto às suas obsessões eróticas. A visão da tartaruga do título não é um mero jogo de palavras, pelo contrário, é um índicio metonímico que conserva a característica essencial do voyeurismo patente em toda a sua obra. Escondendo a cabeça na carapaça, a tartaruga consegue ainda ver o mundo através daquele buraco luminoso subtraido de toda a escuridão segura e familiar do abrigo. Aqui, por entre jogos de olhar, reenvios constantes para a câmara que devia permanecer invisivel captando meramente desejos brutais, Sato vai queimando a própria celulóide que filma, criando um elo poético que remete para aquele jogo de espelhos peculiar que Luis Miguel Nava tanto fazia referência. Um jogo de espelhos que remete para a feitura dos actos artísticos, um mergulho nos processos que trazem à tona as nossas realidades mais íntimas.
Alone in the Night (1994) de Takashi Ishii: ***
Não tão bom como os seus outros dois filmes desta época (Original Sin e Night in the Nude), desta vez mais previsível e redundante, não deixa ainda de mostrar, mais uma vez, um Takashi Ishii concentrado, acima de tudo, na ambiência (estando a narrativa presa a essas ambiências) com a sua estética de planos longos e respirados.
By Player (2000) de Kaneto Shindo: ***
Um curioso filme biográfico sobre o mítico (e é dizer pouco) Taiji Tonoyama, interpretado por um verosímil e excelente Naoto Takenaka. Quanto à realização, Shindo mantém-se sempre refrescante, intercalando cenas de filmes posteriores seus e entrevistas: mesmo Shohei Imamura aparece, por uns segundos, e claro Nobuko Otowa (que na altura em que o filme fora feito, já tinha falecido) imprimindo também um cunho bastante pessoal e afectivo à história.
Yamagata Scream (2009) de Naoto Takenaka: 0
Nem sei o que poderia esperar deste ridículo filme de um realizador que, apesar de ser um bom actor, também já tinha dado algumas provas na realização. Yamagata Scream padece principalmente da presunção de que quanto mais caótico, melhor. Demasiado longo, sem qualquer tipo de personagens marcantes e sem piada, esta é sem dúvida a pior tentativa de Naoto Takenaka na cadeira de realizador e argumentista.
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