The New Earth (1937) de Arnold Fanck e Mansaku Itami: 0
O evidente (ou forçado?) esquecimento desta co-produção alemã (Arnold Franck) e japonesa (Mansaku Itami: pai de Juzo Itami) por parte da bem pensância, fazia anunciar a possibilidade deste ser um filme para apagar das memórias. De facto, um filme propagandista e nacionalista como The New Earth envergonha qualquer espectador de cinema e não só esse. Aqui enxergamos o passado Histórico e não estórico. Desde os cansativos símbolos nacionais, repetidos e filmados incessantemente - como se se quisesse expor um certo vigor nipónico aos nazis, que os vêem de fora, mas são os seus potenciais aliados - até aos discursos heróicos (e duvidosos) das "essências" dos povos e das nações, à apologia da obrigação colectiva face ao individualismo (teoricamente) decadente da modernidade. E depois, as referências realmente perversas (porque se assemelham a inocências ideais) à situação da Manchúria (a expansão militar e territorial profetizada por Kita Ikki que morrera, justamente, no mesmo ano de 1937). E o final, tão extremamente abjecto, tão disforme e tão enganador. Porque o império sucumbiria, porque os filhos da terra falharam, porque nada aqui (e acolá) há ou houve de real, mas de ilusório. Quando o cinema era deliberadamente uma máquina de pretensa verdade. Nada de mais assustador, nada de mais mentiroso. E eu que queria ver um filme com a Setsuko Hara (que mesmo assim, coitada, faz o que pode com os seus ingénuos 17 anos).
August in the water (1995) de Sogo Ishii: ***
Não costumo agarrar-me à ideia de Nirvana como consolo metafísico, mas este filme de Sogo Ishii certamente alcança zonas imagéticas e sensoriais muito semelhantes a essa experiência de esvaziamento cósmico, levando-nos a sonhar, nem que por curtos instantes, na água, sobre o nada...
Se os outros
três filmes disponíveis de Nakashima (Kamikaze Girls, Memories of
Matsuko e Paco Magical Book) eram caracterizados pelo uso massivo de
engenhos não narrativos que reforçavam ou encolerizavam o corpo do filme,
pode-se dizer que este Happy-Go-Lucky, a sua primeira longa metragem
promete já o que viria a ser o estilo inconfundível do mais "pop" dos
realizadores japoneses. Todavia, mais do que a rapidez da montagem e dos
toques irreais e caricaturais, contempla-se aqui um enorme suspiro
veranil à The Taste of Tea, por exemplo. Isto é, o filme consegue chegar
a um nível de familiaridade e de sussurro gentil que, há planos, em que
esquecemos que a câmara está lá. Esta invisibilidade do realizador e dessa gente que vive atrás das câmaras -
que tão bem o cinema japonês (principalmente quando o Verão é retratado)
consegue filmar- consegue fazer-nos sorrir, mesmo num dia chuvoso.
My Darling of the Mountains (2007) de Katsuhito Ishii: **
Katsuhito Ishii - ávido admirador de Hiroshi Shimizu - pretendeu aqui demonstrar a sua admiração por esse clássico realizador negligenciado. Admiração essa, tão inconsequente que o levou a replicar, sequência a sequência, frame a frame o já emblemático filme de 1938, The Masseurs and a Woman. O resultado é tão estranho quanto insípido. Já que se trata de uma dupla restituição (anos 30 mais todo o resto do filme) faz-nos sentir deslocados, como a olhar para um espelho que reflecte uma imagem igual e dissemelhante, mais cheio de fantasia nostálgica do que outra coisa. Ainda assim, prefiro o de Shimizu (e era difícil não o preferir) já que tudo (actores, paisagem, a própria câmara) está mais incorporado numa inescrutável autenticidade.
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