Erotic Liaisons (1992) de Koji Wakamatsu: *
Produzido pelo odioso Kazuyoshi Okuyama, este pequeno e insignificante filme fica na história antes que não seja por ser o embaraço fílmico de Koji Wakamatsu, e o último filme de Yuya Uchida no qual ele encarna uma personagem principal (depois de alguns míticos papeis durante os anos 80). Se Wakamatsu aqui pactua e demais com o sistema dos reducionismos comerciais (tudo é de uma facilidade bocejante), o discurso inicial de uma responsável de Estado francesa, é prova de um auto-flagelamento diabólico: "um filme ridículo feito com yens japoneses". Como se Wakamatsu se estivesse a rir desalmadamente da sua figura num espelho: de revolucionário belicoso a corsário ressacado. O dinheiro (ou a necessidade dele) faz destas coisas...
Barren Illusions (1999) de Kiyoshi Kurosawa: ***
Se Kairo era a canonização artística de problemas de comunicabilidade graves, este é o seu antecedente perfeito. Barren Illusions tem até algo de Tsai Ming Liang: a ocupação física dos corpos é mesmo posta em questão com um fade metafórico sobre o corpo do protagonista, como se, a mente se evaporasse no silêncio da sua melancolia. Para não adiantar mais, poder-se-ia dizer que Barren Illusions é o típico filme que, centrando-se na confusão indistinta do silêncio, se faz desaparecer sensivelmente, como o sol que se esconde tristemente nas nuvens.
Hole in the Sky (2001) de Kazuyoshi Kumakiri: ****
Este filmão de Kumakiri (autor famigerado pelo gore e pela negritude) escapa a qualquer expectativa. Interpretado pelo magnífico Susumu Terajima (talvez o papel da sua vida) e pela igualmente virtuosa Rinko Kikuchi, Hole in the Sky actua num registo tão subtil que o seu poder só pode residir mesmo no não-expresso, no visto. Imersos nas paisagens desoladas e tristes de Hokkaido, é com uma consequente necessidade de afinidades que o próprio espectador observa os personagens enlaçarem-se e desenlaçarem-se. E nada de mais silencioso e de deserto, do que aquele plano de Terajima olhando para o seu reflexo solitário numa poça de água.
Antenna (2004) de Kazuyoshi Kumakiri: **
Querendo ser amargurado na descrição dos afectos humanos, Kumakiri desenha uma espécie de petulância filmica, com traumas à mistura e uma narrativa propositadamente disjunta e aguçada nos picos. O resultado final, surpreendentemente, é muito menor do que se esperava. Para além da interpretação de Ryo Kase, o mundo de Antena é, quase, bizarramente ridículo e, quer sejamos surrealistas ou não, pouco convincente.
Green Mind, Metal Bats (2006) de Kazuyoshi Kumakiri: ***
Honestamente cinematógrafo: no "meio" é que está a virtude. E, de facto, com poucos meios também se fazem boas propostas. Kumakiri aqui liga histórias, personagens de uma real sensibilidade e passados reencontrados num filme que se consagra, muito para além do baseball. De realçar a aparição rara de Koji Wakamatsu!
Freesia: Bullet Over Tears (2007) de Kazuyoshi Kumakiri: *
Desonestamente cinematógrafo: no "extremo" é que está a virtude. Freesia é o típico falhanço do manga caprichoso a querer ser filme. A narrativa e os personagens - que se querem apáticos, como verdadeiras odes à insensibilidade - deixam-nos a nós, indolentes, desinteressados, monstruosamente entediados com tanto pretensiosismo e com tanto "querer" ter estilo à banda-desenhada.
Non-ko (2008) de Kazuyoshi Kumakiri: ***
Um regresso parcial àquilo que tinha corrido tão bem, Non-ko serve como pedra-de-toque para as relações conflituosas no silêncio de A Hole in the Sky. Se, não há dois filmes iguais, Kumakiri centra-se desta vez (e ao contrário de Hole) na mulher que necessita amar, tortuosamente e nem sempre da maneira mais esclarecida. O final tem algo de sincero e intimista, pois que se anuncia uma possibilidade para, fora do filme, nas nossas cabecinhas, a coisa correr bem.
The Cannery Boat (2009) de Sabu: ***
Esta esperada adaptação, pela mão do desaparecido (mas não morto!) Sabu, de um célebre romance do comunista Takiji Kobayashi (e que serviu de base para um remake do filme com o mesmo título, feito em 1953 pelo actor-realizador Sô Yamamura) levava a crer que este seria um projecto de alto risco. Por um lado, por dificilmente sair da prisão criativa que é o remake, e por outro pelo facto inegável de que a própria história original pudesse ser associada a uma temática que aparentemente nos dirá pouco nesta viragem da década. Pois bem, Sabu não desiludiu, e Kanikôsen consegue, de alguma forma, transcender a categorização de filme histórico e é como se de uma alegoria se tratasse. O problema da alienação do trabalho, da exploração e submissão imperial é entrelaçada com o estudo humanista dos personagens que, ao contactarem com os russos, aprendem o caminho ora radiante, ora tortuoso da liberdade (e Ryuhei Matsuda: que papel!). De facto, sofremos por elas e é com elas que descobriremos a esperança (mas só ela). Afinal, outra coisa não se pediria para Kanikôsen funcionar, isto é, tornar o histórico, narrativo. O político em pathos.
Esta esperada adaptação, pela mão do desaparecido (mas não morto!) Sabu, de um célebre romance do comunista Takiji Kobayashi (e que serviu de base para um remake do filme com o mesmo título, feito em 1953 pelo actor-realizador Sô Yamamura) levava a crer que este seria um projecto de alto risco. Por um lado, por dificilmente sair da prisão criativa que é o remake, e por outro pelo facto inegável de que a própria história original pudesse ser associada a uma temática que aparentemente nos dirá pouco nesta viragem da década. Pois bem, Sabu não desiludiu, e Kanikôsen consegue, de alguma forma, transcender a categorização de filme histórico e é como se de uma alegoria se tratasse. O problema da alienação do trabalho, da exploração e submissão imperial é entrelaçada com o estudo humanista dos personagens que, ao contactarem com os russos, aprendem o caminho ora radiante, ora tortuoso da liberdade (e Ryuhei Matsuda: que papel!). De facto, sofremos por elas e é com elas que descobriremos a esperança (mas só ela). Afinal, outra coisa não se pediria para Kanikôsen funcionar, isto é, tornar o histórico, narrativo. O político em pathos.
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