Honor Among Brothers (1966) de Kosaku Yamashita: *
Honor Among Brothers 2 (1966) de Kosaku Yamashita: *
Estes dois filmes de Kosaku Yamashita (o senhor Red Peony Gambler) são variações mínimas do modelo estandardizado do filme yakuza tradicional que era a regra na Toei dos anos 60. Heróis meio estóicos no meio de uma guerra de gangues facilmente discriminados (sabemos desde o princípio quem são os vilões e quem são os dignos cavaleiros da moral), despoltando este embate numa sequência final violenta que tende a acabar com o aprisionamento do herói, agora, tornado mártir pelos seus valores. As versões de Yamashita desta mesma história repetida até ao infinito são, porém, conhecidas por introduzirem personagens mais simpáticos e coloridos num género que usa e abusa da seriedade (e de uma infeliz exposição de diálogos que enfraquece a componente imagética, exceptuando as cenas finais). São assim, duas propostas não muito boas que mesmo assim têm um ou outro personagem mais entretido que impede de ser uma experiência terrivelmente entediante.
Shameless: Abnormal and Abusive Love (1969) de Teruo Ishii: *
A despeito da introdução e de alguns momentos inquestionavelmente psicadélicos e bem atmosféricos na construção de imagens bizarras e quase embrigadas de desejo e sensualidade, este que foi um dos seis filmes que Ishii realizou apenas em 1969 não consegue deixar de ser insuficiente a quase todos os outros níveis. Repleta de violência e sexualidade forçada, rapidamente percebemos que a escassa narrativa encontra um modelo repetitivo de sempre impôr os mesmos problemas e peripécias aos personagens, principalmente porque se trata de uma longa-metragem com pouco para dizer, fazendo pensar porque é que Ishii não a usou como segmento num dos seus filmes-compilações de horror bizarro como por exemplo, Love and Crime, também do mesmo ano, reduzindo a sua duração e cortando até chegar ao essencial. Depois, é também curioso notar como os filmes da Toei desta época eram radicais muito mais pela violência e o choque dos actos dos personagens do que pela maneira como se os filma ou trata. A sua narrativa neste caso, até se resolve de uma maneira estranhamente fácil e lamechas, contrária, em tudo, ao tom sádico e agressivo do resto da película.
Submersion of Japan (1973) de Shiro Moritani: *
Já que este mês de Dezembro foi o mês dos embustes apocalípticos, resolvi desenterrar, pela piada, mais uma interpretação do fim do mundo à japonesa e que faz juntamente com The Last War (1961) de Shue Matsubayashi e Prophecies of Nostradamus (1974) de Toshio Masuda uma verdadeira trilogia clássica da humanidade encarando a catástrofe do seu fim. Apesar do estatuto de culto deste filme com argumento do lendário Shinobu Hashimoto (que lhe valeu inclusive um fraco remake em 2006) será que resistiu bem ao tempo? Infelizmente não. A primeira metade, uma tentativa de introduzir o personagem típico que se apercebe antes de todos do possível desastre não passa de uma quantidade de cenas aborrecidas com várias explicações e conjecturas científicas que avançam pouco a narrativa e nada desenvolvem a psicologia dos personagens. Diria que todo o filme está tão enamorado com o cenário que ele próprio construiu que se esquece crucialmente de nos dar personagens e intuitos fortes o bastante para nos comover e nos prender, para além de um ou outro dilema bem construido mas esparso e raro nas quase duas horas e meia que o filme tem. Posto isto, a segunda parte acaba por ser mais do mesmo, só que aplicado, em grande parte, ao cenário administrativo e político, com cenas de destruição e caos a pontuar esses momentos e uma ou outra personagem com muito tempo de filme, mas finalmente, pouco interessante. É um filme megalómano que negligencia (ou constrói mal) os seus personagens, intérpretes fatais da narrativa: são carregados por ela e não o contrário.
I Love It From Behind (1981) de Koyu Ohara: *
Submersion of Japan (1973) de Shiro Moritani: *
Já que este mês de Dezembro foi o mês dos embustes apocalípticos, resolvi desenterrar, pela piada, mais uma interpretação do fim do mundo à japonesa e que faz juntamente com The Last War (1961) de Shue Matsubayashi e Prophecies of Nostradamus (1974) de Toshio Masuda uma verdadeira trilogia clássica da humanidade encarando a catástrofe do seu fim. Apesar do estatuto de culto deste filme com argumento do lendário Shinobu Hashimoto (que lhe valeu inclusive um fraco remake em 2006) será que resistiu bem ao tempo? Infelizmente não. A primeira metade, uma tentativa de introduzir o personagem típico que se apercebe antes de todos do possível desastre não passa de uma quantidade de cenas aborrecidas com várias explicações e conjecturas científicas que avançam pouco a narrativa e nada desenvolvem a psicologia dos personagens. Diria que todo o filme está tão enamorado com o cenário que ele próprio construiu que se esquece crucialmente de nos dar personagens e intuitos fortes o bastante para nos comover e nos prender, para além de um ou outro dilema bem construido mas esparso e raro nas quase duas horas e meia que o filme tem. Posto isto, a segunda parte acaba por ser mais do mesmo, só que aplicado, em grande parte, ao cenário administrativo e político, com cenas de destruição e caos a pontuar esses momentos e uma ou outra personagem com muito tempo de filme, mas finalmente, pouco interessante. É um filme megalómano que negligencia (ou constrói mal) os seus personagens, intérpretes fatais da narrativa: são carregados por ela e não o contrário.
I Love It From Behind (1981) de Koyu Ohara: *
Ohara faz jus ao seu cognome de "rei do filme erótico pop", mergulhando sempre o espectador numa aventura ligeira à medida da foleirice e do mau-gosto dos anos 80. Para além disso, é uma comédia sexual bizarra repleta de cenas embaraçosas, mas cujo teor deliberadamente parodiante e contra todo o tipo de seriedade torna-a até num objecto curiosamente datado e entretido. É um filme-produto da sua época, tanto pelo seu extremismo leviano, como pela sua óbvia afirmação de que o erotismo é kitsch e nada mais.
That's Cunning! The Greatest Scheme in History (1996) de Hiroshi Sugawara: 0
Irreal e bacoca comédia sobre a utilidade de falsear exames, supostamente, por uma boa causa. Hiroshi Sugawara - que já nos tinha oferecido uma não muito boa experiência, Seven Days War - não demonstra uma grande apetência para filmar convenientemente situações burlescas ou mais surreais, pelo contrário, nunca consegue sair de uma forma de apresentar as coisas à filme de domingo à tarde, servindo-nos uma ou duas cenas razoáveis (algumas trapaças são minimamente humorosas) no meio de uma mediocridade inaceitável e comichosa. O facto de se ter desculpado os discentes cábulas com uma demonização da classe docente também é típico destes filmes repletos de pouco engenho, mesmo quando se quer, supostamente, apimentar um pouco as coisas.
The Woodsman and the Rain (2011) de Shuichi Okita: ***
The Chef of South Polar (2009), primeiro filme de Shuichi Okita, demonstrava já um carinho bastante especial pelos seus personagens atípicos num cenário invulgar (uma tripulação japonesa em pleno Pólo Sul!). Com Woodsman and the Rain, pequena jóia, Okita aplica o mesmo modelo formal de um encontro inesperado (um lenhador castiço e um jovem e tímido realizador) e realiza uma verdadeira ode ao cinema de baixo orçamento, começando por caricatura-lo mas finalmente, elogiando-o com toda a força (já que o processo de fazer cinema é que é mágico e não propriamente os filmes enquanto tais). É uma daquelas películas que contam com a mestria de certos actores (Koji Yakusho, claro) e que são experiências doces e felizes, conciliadoras mas não facilitistas.
Chips (2012) de Yoshihiro Nakamura: 0
Inconsequente filme do promissor Nakamura que peca aqui por confiar em demasia nos personagens e no seu suposto carisma, na realidade inexistente, mas algo que, em parte tinha feito bem nos seus filmes anteriores. Mas também como filme guiado pelos personagens, Chips falha redondamente: eles não são interessantes, com eles não sentimos o mínimo apreço e as revelações mínimas que lhes são dadas fazem o espectador sentir que está a ser enganado e puxado para um final cuja mensagem "feel-good" é pouco digerível. Como é que ainda há dinheiro para fazer coisas assim?
Rurouni Kenshin (2012) de Keishi Otomo: **
A experiência de um admirador de uma obra original que é fatalmente adaptada para o grande ecrã é sempre estranha e, na maior parte dos casos, frustrante. Resume-se sempre a um tentativa instável de equilibrio entre o que nos lembramos do original e o que é novo na adaptação. Raras vezes o que é novo consegue surpreender, já que foi o que conhecíamos antes que condicionava o nosso gosto e toda a construção do nosso juízo. A tarefa de Keishi Otomo - um quase-novato na cadeira de realizador de cinema - era fácil e difícil ao mesmo tempo. Fácil porque o extraordinário manga de Nobuhiro Watsuki, Rurouni Kenshin não é dos mais difíceis de adaptar para cinema, pois, salvo alguns exageros e fantasias, é um universo que lida com dilemas de chanbara e está preso a um período específico da história japonesa, período esse que é fascinante (o final da era Bakumatsu, princípio da era Meiji) e que é farto em obras-primas da sétima arte - para perceber como o cinema japonês está habituado a retratar esta época tome-se como exemplo, Tenchu! (1969) de Hideo Gosha ou The Last Samurai (1974), não o de Tom Cruise (!), mas o de Kenji Misumi. Nesse sentido, Otomo está inserido numa tradição que constantemente retratou os dilemas e as amarguras de um conjunto de homens que "viveram pela espada e morreram pela espada", independentemente das mudanças de grande relevo social que fizeram que eles se tornassem vagabundos e forasteiros. Mesmo sendo para um público menos avisado, a obra original de Watsuki concentrava todos estas problemas num personagem chamado Kenshin Himura, o Battosai, um ex-assassíno renegador dos seus velhos métodos e que tenta a todo o custo encontrar sossego numa era mais modernizada. A dificuldade da tarefa de Otomo era, justamente, filmar a complexidade deste personagem e da intrincada, mas no princípio, episódica, narrativa, mantendo a coerência e um certo espírito de síntese para abarcar tudo em duas horas e pouco. Pode-se dizer que é um exercício com demasiada síntese (juntam-se aqui três pequenas e diferentes "sagas" numa!) mas, felizmente, a alma está cá quase toda. Isto deve-se principalmente ao tratamento dado ao herói e à bastante satisfatória prestação de Takeru Sato que interpreta com alguma subtileza um personagem, por si só, complexo. O pior do filme é precisamente a resistência de quase todos os personagens amigáveis em redor de Kenshin, veja-se Yahiko (quase inexistente) e Sanosuke, personagens que parecem estar a mais numa narrativa que não lhes dá tempo nem muito espaço, sem ser forçado e algo impingido. Também não podemos deixar de notar o tempo indevido dado a algumas personagens como Kanryuu Takeda, o traficante de ópio símbolo do Japão mercantil da era Meiji e o seu bando. Apesar disso e da narrativa um bocado sinuosa, Kenshin rouba o espectáculo e consegue criar, com a sua energia, um sentimento qualquer de que a adaptação tocou no essencial, não criando por isso, um sentimento de desilusão, mas conservando ainda alguns pecados que não o tornam num visionamento obrigatório tanto para os fanáticos como para o espectador comum. Para ver, se se está curioso.
Rurouni Kenshin (2012) de Keishi Otomo: **
A experiência de um admirador de uma obra original que é fatalmente adaptada para o grande ecrã é sempre estranha e, na maior parte dos casos, frustrante. Resume-se sempre a um tentativa instável de equilibrio entre o que nos lembramos do original e o que é novo na adaptação. Raras vezes o que é novo consegue surpreender, já que foi o que conhecíamos antes que condicionava o nosso gosto e toda a construção do nosso juízo. A tarefa de Keishi Otomo - um quase-novato na cadeira de realizador de cinema - era fácil e difícil ao mesmo tempo. Fácil porque o extraordinário manga de Nobuhiro Watsuki, Rurouni Kenshin não é dos mais difíceis de adaptar para cinema, pois, salvo alguns exageros e fantasias, é um universo que lida com dilemas de chanbara e está preso a um período específico da história japonesa, período esse que é fascinante (o final da era Bakumatsu, princípio da era Meiji) e que é farto em obras-primas da sétima arte - para perceber como o cinema japonês está habituado a retratar esta época tome-se como exemplo, Tenchu! (1969) de Hideo Gosha ou The Last Samurai (1974), não o de Tom Cruise (!), mas o de Kenji Misumi. Nesse sentido, Otomo está inserido numa tradição que constantemente retratou os dilemas e as amarguras de um conjunto de homens que "viveram pela espada e morreram pela espada", independentemente das mudanças de grande relevo social que fizeram que eles se tornassem vagabundos e forasteiros. Mesmo sendo para um público menos avisado, a obra original de Watsuki concentrava todos estas problemas num personagem chamado Kenshin Himura, o Battosai, um ex-assassíno renegador dos seus velhos métodos e que tenta a todo o custo encontrar sossego numa era mais modernizada. A dificuldade da tarefa de Otomo era, justamente, filmar a complexidade deste personagem e da intrincada, mas no princípio, episódica, narrativa, mantendo a coerência e um certo espírito de síntese para abarcar tudo em duas horas e pouco. Pode-se dizer que é um exercício com demasiada síntese (juntam-se aqui três pequenas e diferentes "sagas" numa!) mas, felizmente, a alma está cá quase toda. Isto deve-se principalmente ao tratamento dado ao herói e à bastante satisfatória prestação de Takeru Sato que interpreta com alguma subtileza um personagem, por si só, complexo. O pior do filme é precisamente a resistência de quase todos os personagens amigáveis em redor de Kenshin, veja-se Yahiko (quase inexistente) e Sanosuke, personagens que parecem estar a mais numa narrativa que não lhes dá tempo nem muito espaço, sem ser forçado e algo impingido. Também não podemos deixar de notar o tempo indevido dado a algumas personagens como Kanryuu Takeda, o traficante de ópio símbolo do Japão mercantil da era Meiji e o seu bando. Apesar disso e da narrativa um bocado sinuosa, Kenshin rouba o espectáculo e consegue criar, com a sua energia, um sentimento qualquer de que a adaptação tocou no essencial, não criando por isso, um sentimento de desilusão, mas conservando ainda alguns pecados que não o tornam num visionamento obrigatório tanto para os fanáticos como para o espectador comum. Para ver, se se está curioso.
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