28/10/12

Fragmentos de 2010/05/01



Farewell to the Land (1982) de Mitsuo Yanagimachi: *****
Este é dos grandes filmes dos anos 80. Um marco a todos os níveis e um testemunho de niilismo como só Yanagimachi poderia filmar. Como dizia Donald Richie acerca da estilística Yanagimachiana: "não explica, demonstra". E, de facto, é porque o centro de gravidade cinematográfico está totalmente transportado para a imediatez do acto e a sua violência quase selvagem à beira da depressão, que também a prestação do enorme Jinpachi Nezu sidera e nos aliena.



Carnival in the Night (1982) de Masashi Yamamoto: ****
Carnival in the Night é um exercício despido de formalismos, que acompanha e supera (no que diz respeito à sua crueza despojada) toda a geração cinéfila Punk: Tsukamoto, Matsui, e até mesmo Sogo Ishii. Tal frieza da câmara parece reportar-nos aos antípodas de um cinema íntimo, mas é na constante distância e na bestial violência, que se vai construindo uma intimidade perversa com aquela mulher nos limites da vida e da morte. Mas o seu sorriso final e a cor que vai e vem no preto-e-branco comprovam que quanto mais condenado se tornar, mais amor e compaixão teremos pelo género humano e a sua dor.



Death Shadow (1986) de Hideo Gosha: **
Death Shadow é um dos últimos chanbaras de Hideo Gosha. A passos, visualmente espantoso e formalmente belo, tem, ainda assim, o mesmo problema (mas agravado) de "Bandits Vs Samurais" (1978) ou "Hunter in the Dark" (1979), isto é, uma narrativa que tropeça constantemente e ora é rápida nos desenlaces, ora é extremamente lenta noutros momentos mortos. Assim, este é uma película que tem o problema de ser demasiado longa para o que oferece. Isto comprova-se pelo facto de o filme parecer estar sempre a acabar, sendo os últimos 30 minutos, encenações de "combates finais" repetidos até já não haver mais personagens para matar. No entanto,  a componente visual e a encenação digna de um dos maiores mestres do género, conseguem manter entretido o espectador. Um Gosha menor, mas de não se evitar completamente.
 


Shadow of China (1990) de Mitsuo Yanagimachi: **
Uma co-produção de diferentes países com os problemas do costume: apressado, por vezes desconexo, em chininglês, mas ainda assim com um argumento mais ou menos digno. Apesar das falhas de comunicação difíceis de superar, o retrato de uma China pós-Tiananmen a partir de uma Hong-Kong sem identidade e imersa num marasmo capitalista, não deixa de ter o seu quê de interessante e captivante como proposta.



Now, I... (2007) de Yasutomo Chikuma: ***
Filme inteiramente denso e hermético sobre um problema sério demais para ser filmado de ânimo leve. De ânimo pesado - eu diria - o jovem actor/realizador consegue, no entanto, transmitir mais do que uma mera representação da realidade. É na transgressão dessa coisa real e no choro final que algo mais transparece. Mas depois a câmara morre. E é no silêncio dessa indefinição que permanecemos...



Symbol (2009) de Hitoshi Matsumoto: 0
Big Man Japan (2007) tinha sido um exercício um tanto entediante para um cómico televisivo tão folioso como é o membro do duo Downtown. Para seu segundo filme na cadeira de realizador, Hitoshi Matsumoto decidiu mudar ligeiramente o tom da comédia e ajustá-la mais ao seu humor habitual dos Batsu Game - o comportamento ines(deses)perado face a situações absurdas, persistentes e humilhantes. O resultado é uma mistela de humor físico e ridículo (por vezes, simpático, mas de modo geral, frustrado) com a mais pura das mensagens existencialistas de pacotilha. Os últimos minutos, nos quais nos é revelada a possibilidade do homem tornar-se divino, descobrindo o carácter aberto do futuro (e que, portanto, somos causas dos nossos efeitos), é, de facto, uma metáfora demasiado barata para ser digerível, ainda por cima quando tudo isto está aliado a uma estética de videoclip pretensamente "avant-garde" que, à falta de melhor, se recheia de variadas imagens à la youtube para provar que desde a cara mediatizada do Presidente Obama, passando pelas flores a desabrochar e finalizando com um pinguim a tropeçar no gelo, tudo é de facto relativo. Um aparte: A ideia que os japoneses fazem filmes "malucos" (e que, por serem malucos, são geniais) é uma estratégia de marketing boa para atrair gente que exclusivamente fala de forma, e pouco de conteúdos. Memorando: não se é mais "fixe" (nem mais indie), só porque se vê filmes japoneses...

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