Último filme no Universo: junho 2019

20/06/19

Fragmentos de 2019, Maio-Junho

Foujita (2015)

Kyoto (1969) de Kon Ichikawa: ***
Without Complaint (1975) de Hiromichi Horikawa: ***
New - No Longer Human (1978) de Kohei Yoshidome: ***
Death Powder (1986) de Shigeru Izumiya: *
Love Bites Back (1988) de Tatsumi Kumashiro: ***
Remembrance (1988) de Takehiro Nakajima: ***
Mikadroid (1991) de Tomoo Haraguchi: *
Skyscraper Hunting (1991) de Mitsunori Hattori: 0
Immoral - Indecent Relations (1995) de Tatsumi Kumashiro: **
Peanuts (1996) de Takashi Miike: *
Like Nothing Ever Happened (2003) de Ryusuke Hamaguchi: **
Casting Blossoms To The Sky (2012) de Nobuhiko Obayashi: *
Foujita (2015) de Kohei Oguri: ****
Isao Takahata and His Tale of the Princess Kaguya (2015) de Akira Miura e Hidekazu Sato: ***
Ranmaru - The Man with the God Tongue (2016) de Yukihiko Tsutsumi: 0
Twisted Justice (2016) de Kazuya Shirashi: **
Innocent Curse (2017) de Takashi Shimizu: 0
We Love (2018) de Yuichi Sato: 0
Saint Young Men (2018) de Yuichi Fukuda: **
Sunny - Our Hearts Beat Together (2018) de Hitoshi Ohne: ***

Um pressuposto

Partamos do pressuposto que só conseguimos analisar correctamente o singular através de uma síntese composta pela colectividade. Teríamos de ter, então,visto todos os filmes do mundo para poder ver a complexidade relativa de um único. Teríamos de integrar a incomensurabilidade de todos os filmes já feitos e integrá-la na singularidade do que vemos, hoje. Mas se somássemos a duração de todos os filmes do mundo perceberíamos que execederíamos em tempo a própria vida do seu observador. Esta regra aplica-se tanto retro como proactivamente: se olhamos para o futuro estamos a multiplicar em indeterminação o olhar de tudo aquilo que ainda há a fazer, se olhamos para trás deparamo-nos com o amontoado de cadáveres de coisas já feitas.
Assim, o gosto artístico existe devido a uma fraqueza de incompletude. Estamos condenados a avaliar por fragmentos, pela finitude do nosso olhar contraposta à infinitude possível e hipotética de todas as coisas ainda por vir.
O derradeiro desejo do cinéfilo, esse bicho estranho que não aguenta não ter razão, seria visionar o último filme do universo, nesse momento meio irónico em que todo o cosmos se desintegrasse à medida que os créditos rolassem e enfim cessassem. Os seus olhos vagos e moribundos reflectindo a escuridão por toda a eternidade.

Da Avaliação

0 - Péssimas ideias e/ou execução. É o superlativo do mau filme. Se considerarmos a coisa como um todo, não existem partes redentoras. Ligado à frustração e a sentimentos pouco saudáveis como a ira.
* - Algo que, por norma, não cumpre, ou cumpre mal, o que tinha proposto fazer. Podemos ter apreciado, ainda assim, algumas ideias ou alguns poucos momentos, mas nada que não esteja contaminado por um sentimento de reprovação geral.
** - Pode ter bons momentos, mas as suas imperfeições não o deixam ir mais longe. Razoável, no sentido de estar a meio-caminho entre a insignificância e a importância.
*** - A boa coisa é aquela que significou um bom investimento emocional sem, ainda assim, nos projectar para os sentimentos de veneração. Se há imperfeições visíveis, elas estão mudas. Se tentam falar alto não conseguem, porque ficámos surdos com o todo.
**** - A partir daqui aconselha-se o cultivo da coisa a toda a gente, visto começar a notar-se algum culto e, consequente tentativa de aconselhamento. Foi algo que nos transfigurou, que nos mudou e cujo visionamento não dispensávamos se nos convidassem, a qualquer hora, para assistirmos.
***** - A obra-prima: aquela coisa que julgamos ser perfeita e que expressa todo o anseio humano de também conseguir inventar ângulos rectos e coisas da geometria. Depois de vista, ergue-se como axioma o seguinte: só um fosso interminável pode separar quem não gostou disto e quem gostou, a saber, eu.