28/10/12

Fragmentos de 2009/11/09



Cruel Tales of Bushido (1963) de Tadashi Imai: *****
Há bastante tempo que esperava poder vir a contemplar um filme de Tadashi Imai, o realizador socialista nipónico por excelência. E nada melhor do que este estudo genealógico ao inconsciente colectivo japonês. A obediência cega levada ao extremo da crueldade entre os senhores e os escravos, e a sublimação desse carácter num esquema repetitivo e atávico ao longo das gerações, levam-nos a um pathos desesperante no qual só os últimos planos complementam a esperança de no presente a maldição conseguir ser quebrada. 



The Age of Assassins (1967) de Kihachi Okamoto: ****
Fantástico filme-bomba de Okamoto. No words needed! Pura Farra!



The Devils Temple (1969)
de Kenji Misumi: ****
Um grande cast (Shintaro Katsu, Hideko Takamine, Kei Sato, Michiyo Aratama) reunido num filme curto mas bastante intenso, baseado num conto de Junichiro Tanizaki, com um argumento escrito pelo grande Kaneto Shindo. Grandes momentos num confronto de pureza e vício. Viva Misumi.



Summer Soldiers (1972) de Hiroshi Teshigahara: ***
Só agora é que consegui ver este filme de Teshigahara. Sendo a sua obra mais atípica, não é de estranhar que a câmara perca aqui a sua gravidade formal e se liberte mais, filmando o quotidiano enclausurado dos G.I desertores americanos, inclusive com monólogos diante da câmara. Naquilo que é um cruzamento com cinema verité e ficção (assemelhando-se. portanto, bastante mais à Nouvelle Vague Francesa do que propriamente com os pesadelos à Japonesa), Teshigahara sai-se bem, documentando com uma certa liberdade o desespero que a ausência da guerra pode provocar àqueles que sempre viveram com ela.



The Music (1972) de Yasuzo Masumura: ****
Mais um ATG digno de referência e veneração. Desta vez, Masumura filma como Mishima escreve: psicanalíticamente. Quadro de uma patologia, Masumura filma uma mulher complexa, criando uma sessão colectiva de psicanálise onde as imagens do delírio e as mentiras ressentidas e recalcadas vão-se enredando numa trama quase policial. Muito bom!



The 19 Year Old's Map (1979) de Mitsuo Yanagimachi: ****
Depois da lição de cinema que é Himatsuri (1985), fica-nos disponível mais uma obra de Mitsuo Yanagimachi, baseada, noutro escrito violento de Kenji Nakagami. Não é estranho, por isso, que nos seja servido aqui mais um daqueles filmes tipicamente niilistas e angustiados da juventude do final dos anos 70, princípio de 80. Pelo seu melancólico slow-pace fez-me lembrar Sado de Yoichi Higashi e pela sua violência contida, anti-social e monstruosa, Youth Killer de Kazuhiko Hasegawa (outro filme baseado num romance de Kenji Nakagami). Há um comentário no IMDB que penso fazer justiça à mensagem sombria deste tipo de filmes, do qual este não é excepção (e se tanto Sado como este 19 Year Old Map acabam com os personagens a correr febrilmente não é por acaso): We can neither live happily nor kill ourselves. We must keep running...



Pig Chicken Suicide (1981) de Yoshihiko Matsui: *
Eis que surgiram legendas para o percursor temático de Noisy Requiem, só que ao contrário deste último, Pig Chicken Suicide é um exercício excessivo de paciência não só face à narrativa disjunta, no limite do incompreensível, mas também (pasme-se) face ao próprio horror e repulsa que se assiste a toda hora. Igualmente centrado na discriminação e no amor extremo (uma versão contemporânea do amour-fou), Pig Chicken deixa-se levar por excessivos e exíguos experimentalismos (sendo, em grande parte, desnecessárias e gratuitas várias cenas de mortes de animais, etc.), tornando-se, assim, numa pequeníssima obra comparada à genialidade grandiosa de Noisy Requiem. Só alguns planos mais arrojados é que fazem, ainda assim, adivinhar a capacidade destrutiva do cinema de Matsui.

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