20/12/18

Fragmentos de 2016/02/02




The Whale God (1962) de Tokuzo Tanaka: ****
Naquela que é a versão japonesa de Moby-Dick, Tokuzo Tanaka afinca o talento fotogénico num filme que é um herdeiro da composição triangular de Akira Kurosawa. Mais importante do que a história de dois caçadores de baleias que competem pela fortuna e filha do chefe da aldeia é o modo como a câmara consegue dinamizar a presença dos corpos no plano, afirmando claramente que o significado pleno da imagem psicológica se alcança quando três entidades (corpos ou objectos) se relacionam no mesmo plano e dividem as intensidades hierarquicamente. Para alcançar essa composição triangular é necessário desenvolver a profundidade do campo (e como aqui Tanaka e Setsuo Kobayashi - director de fotografia de muitas obras de Kon Ichikawa ou Yasuzo Masumura - desenvolvem essa profundidade dava para várias lições de cinema) e distribuir os actores no plano sem forçar ou tornar demasiado abstracto o seu movimento. Nesse sentido, as duas presenças deste filme (Shintaro Katsu e Kojiro Hongo) são essenciais, pois a brutalidade de um e a finura do carácter de outro desenvolvem uma narrativa que, paradoxalmente, da vida à morte e da morte ao renascimento (e que cena poética essa em que o caçador, prestando as honras à caça, se torna ela mesma) os vai purificando.



Eyecatch Junction (1991) de Takashi Miike: 0
Lady Hunter - Prelude to Murder (1991) de Takashi Miike: 0
Os dois primeiros filmes de Takashi Miike são duas incursões nos géneros mais populares do V-Cinema: a comédia ligeira e o filme de acção. Lady Hunter, a primeira película filmada por Miike mas a segunda a ser lançada no mercado, narra a aventura de uma ex-militar que defende uma criança de uma organização criminosa que pode estar envolvida num escândalo político internacional. Já Eyecatch Junction conta com a presença de um grupo de mulheres polícia que quer desmantelar uma rede de prostituição ilegal enquanto abre a sua própria divisão policial feminina. Como seria de esperar, ambos os filmes são apenas curiosidades de percurso para o dedicado admirador miikiano e revelam-se pouco ou nada marcantes se vistos isoladamente ou no conjunto da sua filmografia. Lady Hunter tem um ou outro apontamento na edição que poderá lembrar-nos as introduções frenéticas que faria mais tarde e se o final pessimista pode ser inesperado, tudo o resto é bastante linear e até um pouco bocejante. Eyecatch Junction, por sua vez, revela não só um mau-gosto no humor, sempre básico e sem piada, como uma incapacidade para estabelecer uma atmosfera coerente. Desde gags cartoonescos a cenas sexuais com plásticos (e um fetichismo qualquer com uniformes de ginasta), não é por acaso que este filme ficou perdido no reino obscuro dos VHS. 

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